segunda-feira, 21 de setembro de 2015

"Que horas ela volta?": A segregação social do Brasil que lota os cinemas


     

 "Que horas ela volta" estreou no Brasil já premiado em vários festivais mundo afora (Como o Sundance), com sucesso de críticas. Chegou nas salas de cinemas bem falado, o que pode ser uma nova estratégia para o nosso roto cinema nacional, que perde espaço para os "blockbosters" americanos, cheio de efeitos  visuais e vazios de conteúdo. E tem também os comédias bestas que ganham apoio de empresas e são sempre assinados pelos mesmos (sem o "s") estúdios. O que não acontece com o cinema nordestino, mas isso fica para outra hora.
       O filme de Anna Muylaert, que já é indicado do Brasil para concorrer a disputa de Oscar estrangeiro em 2016, fala do que todo mundo finge não existir: a segregação social que existe no Brasil, a exploração "involuntária" e o medo da classe média, que cada vez está mais baixa, em não ter mais serviçais que não saibam o seu lugar. No papel central está Val (muito bem interpretado por Regina Casé), uma pernambucana que foi para São Paulo e conseguiu um emprego na casa de uma rica família, que vive de rendas e não é capaz de criar o próprio filho, deixando aos cuidados da empregada, que ao mesmo tempo que tem o amor do menino, precisa comer separada dos "patrões" que não são capazes de levantar a bunda da cadeira para tirar o prato da mesa ou pegar um maldito copo d'água. O problema começa a ser exposto quando a filha dela resolve fazer uma visita, percebe- e mostra- o que há de errado na relação subalterna que existe ali. São os resquícios do Brasil colonial que ainda vivem na incrustados na sociedade.
      A mulher que dá ordens sempre faz questão de ser muito discreta quando "coloca a Val no seu devido lugar", afinal ela é quase da família, apenas não pode comer com eles e nem o que eles comem. Que mal há nisso? O grande problema  é quando o elefante na sala entra na pisicna, a partir daí a própria empregada começa a notar, mesmo sem querer, que algo não está certo. Aí está a história de vários nordestinos que vão para São Paulo trabalhar e aceitam a maneira como são tratados, porque muitas vezes, não reconhecem e não conhecem o valor que têm, ou nunca tiveram um tratamento diferente. O costume que vai cada vez criando mais barreiras e aumentando o abismo entre as classes.
      Aí está toda uma problemática que foi exposta, e cada vez ganha mais salas e espaços para debate, que todas as classes e raças sabem que existe: a separação dos pobres e ricos, o lugar de cada um, mesmo que desproposital e aceita por quem se submete, sem entender porque não é certo. A classe média do Brasil foi despida e apresentada para todo o mundo. Cada vez mais dinheiro, casas maiores, mais pessoas cuidando dos lares alheios, dos filhos dos outros, menos tempo para ensinar princípios e muito menos para tratar as pessoas como seres humanos, e não como criados "full time".
         Na semana de estreia o longa vendeu 287 ingressos por dia em cada uma das 91 salas brasileiras, depois teve uma diminuição, mas da terceira para a quarta aumentou e foi para 617 pessoas por sala e agora está em 150 salas.  Esperamos que os espectadores levem um pouco do filme para casa. Já diria o sábio Agenor: "São caboclos querendo ser ingleses" e o problema não é querer ser outra definição, é não assumir as raízes, e nisso o Brasil é campeão.

Clique aqui para conferir o trailer!

Ficha técnica:
Gênero: Drama
Direção e roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Alex Huszar, Anapaula Csernik, Antonio Abujamra, Audrey Lima Lopes, Bete Dorgam, Camila Márdila, Helena Albergaria, Hugo Villavicenzio, Karine Teles, Lourenço Mutarelli, Luci Pereira, Luis Miranda, Michel Joelsas, Nilcéia Vicente, Regina Casé, Roberto Camargo, Thaise Reis, Theo Werneck
Produção: Anna Muylaert, Débora Ivanov, Fabiano Gullane, Gabriel Lacerda
Fotografia: Bárbara Álvarez

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