sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Love: O amor e o drama escorrem da tela

           

 Na tela do cinema o amor que os cartazes escondidos fora da sala escancara: está ali, e começa se mostrando sem nenhum medo. O novo filme do genial Gaspar Noé narra uma relação amorosa tumultuada e intensa, do início ao fim, "Love" tem como personagem o americano perturbado e patético "Murphy", que assim como o nome é fadado para ser um fracasso, principalmente porque é um corvardão neurótico. Electra, e toda a sexualidade que carrega no seu complexo, é uma mulher depressiva com picos agressivos, mas tem a sede de amar. A maioria das cenas acontece em banheiros de boates, aqueles preferidos do diretor, com pouca luz e tons avermelhados, acompanhado das batidas do genial de Thomas Bangalter (por vezes interrompidas pela música clássica- à La Lars..), ou no quarto de Murphy, recheado de poster de filmes, incluindo "Salò", obra prima de Pasolini, mais um elemento que completa a relação masoquista.
            O mais curioso é como o filme pode ser contraditório, ao mesmo tempo em que o relacionamento é por vezes doentio e sádico, em instantes torna-se como o de qualquer um, se pelo menos nem todo o mundo faz o que se passa com o que casal, muita gente já teve vontade. Os xingamentos, as explosões, e toda aquela maravilha que caminha com o comportamento humano. 
            Entre o "cineasta" e a "pintora" um universo de sonhos, construído por muitas ilusões, medos e inquietações, como a do jovem que se questiona por que o sexo não aparece nos filmes se ele acontece na vida. Questão que entra também na temática do diretor quando se propôs a fazer o longa, o filme falando do filme, o mesmo assunto em outra dimensão. O diretor também "aparece" na obra através das menções dos nomes iguais ao seu, já que ele não atua, como muitos por aí, porque não falar dele mesmo? É justo. Vale destacar também a participação da transexual brasileira Stella Rocha.
             Por último, e não menos importante, o diretor argentino (praticamente francês) entra na temática: América X Europa. E isso vai desde a construção dos personagens, os quais ele deixa bem claro quem são os conservadores e os liberais, a paixão pela liberdade no velho continente e o patriotismo coveniente que resta em quem vai morar fora. O esteriótipo do "filmaker", o cara que vai mudar o mundo, mas acaba na libertinagem- e tudo aquilo que não é mais novo no novo mundo.
            É a hipocrisia vencida, e mesmo com mais de duas horas de sexo, o que mais se vê não é o sexo e sim o amor, o drama, a relação do início ao fim de duas pessoas, contada na ordem que convém, e não cronológica. É uma mescla de "Amor em cinco tempos", de François Ozon e "Os sonhadores", de Bertoluci, sem o quiz de cinema e com a problemática existencialista.
           O filme em 3d não é tão impactante e muito menos inovador, para quem assistiu a última obra de Godard (Adeus à linguagem) estar em outro formato não faria grande diferença. Mais uma vez o conteúdo (pesado) superou a estética, o que não significa que a direção não seja simplesmente impecável, como é em todos os curtas e longas de Gaspar. É um drama denso, antes de qualquer outra classificação. Se sai mais triste que excitado. Quem achou o filme "vazio", como algumas críticas que li por aí, precisa estudar mais sobre cinema. E até sobre a vida.  

Título: Love (Original) 
Ano produção 2015 
Dirigido por Gaspar Noé 
Estreia 10 de Setembro de 2015 ( Brasil ) 
Duração 130 minutos 
Classificação 18
Gênero Drama 
Países de Origem Estados Unidos da América França
Atores: Karl Glusman, Aomi Muyock, Klara Kristin.


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