segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O anticristo e a neurótica, no paraíso.



Finalmente fui conferir ''O anticristo'' (Antichrist, 2009), o tão polêmico filme de Lars Von Trier (Dançando no Escuro e Dogville), que causou furor na abertura do festival de Cannes, arrancando vaias e aplausos dos presentes. Apesar de algumas cenas chocantes com o tema ''de médico e louco todo mundo tem um pouco'', eu esperava mais.
O roteiro foi escrito baseado nos pesadelos do diretor dinamarquês, em plena crise de depressão. É algo descrito sem o menor medo ou receio de reações dos que vão presenciar tais cenas, grossamente definindo é uma situação banal, com muitos toques de crueldade, sexo, multilações e alto teor de desconforto. O início da película ganha toda a atenção para a trama, onde Lars mostra com beleza e sutileza o momento no qual se define o prazer e o caos: atuações em preto e braco, que mostram lentamente a grandeza de pequenos detalhes.
Após a calmaria, acompanhada da marcante trilha sonora clássica ''Lascia chi'o pianga'', do compositor barroco alemão Handel, vem o terror psicológico, visual e perturbador, com os simbolismos católicos, caóticos e satânicos. Já sabe-se que o diretor pouco convencional utiliza as mulheres como mártires em suas obras, mas dessa vez a figura feminina foi descrita de forma moralista, como as ensinadas em qualquer catequese: a mulher não tem outra funcionalidade existencial, se não a de sofrer para libertar outras almas. Hipocrisia católica, sem dúvida.
O casal, que entra na paranóia desde a morte do filho, causada por culpa deles (ensinamentos da igreja, na época medieval), tenta, ao invés de remediar seus medos, afrontá-los. Isso com a ajuda arrogante do marido pseudo- médico, que mais adiante deve arrepender-se amargamente por não ter deixado a mulher mergulhar no mundo de Prozac. A dupla sofredora ( interpretada por Charlotte Gainsburg, vencedora do prêmio de melhor atriz, e Willem Dafoe, atuando em igual brilhantismo) não desperta qualquer dor solidária em quem assiste, não cativa nenhum tipo de identificação, por esse fato que eles não devem ter nomes na história.
Definido como terror, vou mais pela teoria do terror psicológico com pitadas de suspense freudiano ( maluquices de Lynch, misturadas à perturbação mental de Polanski, junto com as bizarrices sexuais de Almodóvar). Apesar de muitas cenas de horror, que sobressaem-se à outras mais brandas, alguns detalhes ''menos importantes'' são de fundamental necessidade para o entendimento da trama. Ou não, pois o mesmo apresenta diversas formas de entendimento, o que o torna ainda mais interessante.
A obra,  separada por atos, marca principal do diretor, descreve Adão e Eva pirando entre o sexo e a dor no Éden, é bem dirigida, mas deixa a desejar em muitos aspectos, como a de aterrorizar sem sensibilizar. Dor, culpa e sexo são os elementos presentes todo o tempo, unidos aos que vão aparecendo no decorrer do longa. Para os espectadores medianos que sempre esperam a ''moral da história'' aqui vai: não deixe uma mulher neurótica sem medicação, nem é recomendado transar se a finalidade for apenas o orgasmo.Amém.

ficha técnica:

título original: Antichrist
gênero:Terror
duração:01 hs 40 min
ano de lançamento: 2009
estúdio:Zentropa Entertainments / Lucky Red / Slot Machine / Memfis Film / Filmstiftung NRW / Trollhättan Film AB /ARTE / ZDF/Arte / Danmarks Radio / Film i Vast / CNC / Canal+ / Sveriges Television / Det Danske Filminstitut / Liberator Productions / Deutsch
Roteiro e direção: Lars Von Trier
produção:Meta Louise Foldager
fotografia:Anthony Dod Mantle
direção de arte:Tim Pannen
edição:Asa Mossberg e Anders Refn

elenco:

Charlotte Gainsbourg (Ela)
Willem Dafoe (Ele)

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