quarta-feira, 10 de março de 2010

"O segredo de seus olhos" e o reconhecimento da Academia


Não foi devido a um fato "anormal" (ocorrido frequentemente na festa do cinema Hollywoodiana) que a Academia premiou com o Oscar de melhor filme em língua estrangeira a produção argentina "O segredo de seus olhos" ("El Secreto de Sus Ojos", 2009), de Juan José Campanella. A película que desbancou "A fita branca", favorita na categoria, realmente mereceu a estatueta  de ouro.
Presente  na maioria das películas argentinas, a temática polítíca é tratada no longa, neste caso retratando a violência policial na década de 70, mas não centraliza a mesma como questão principal. O filme escrito por Eduardo Sacheri e roteirizado por Campanella consegue transmitir muitas emoções nas duas horas de duração, impercebidas, pela forma como a história prende quem está assistindo.
No roteiro, a história de um promotor aposentado, obcecado por um assassinato que não pôde resolver, e paralelamente, um amor que também não conseguiu dar continuidade devido aos desencontros dos acontecimentos da época. A passagem da história atual e o passado são descritos de uma forma totalmente estruturada; indo do suspense, passando pelo cômico, até o drama em questões de instantes.
A direção de Campanella, que sempre foi muito bem feita, desta vez superou todas as expectativas. Ele consegue em cada cena dar um novo ângulo para cada plano, e, dessa maneira cria uma aproximação com o espectador a ponto dele sentir-se participante da história. Essa parceria entre o diretor Juan Campanella e o ator Ricardo Darín não é de agora. Eles já trabalharam juntos várias vezes, como "O mesmo amor, a mesma chuva", 1999; "O filho da noiva", 2001; "Clube da lua", 2004.
O protagonista da trama é interpretado brilhantemente por Ricardo Darín. O ator portenho é filho de atores e estreiou no teatro quando tinha dez anos, e ganhou projeção internacional quando trabalhou no filme "nove rainhas" ("Nueve reinas", 2000; de Fabián Bielinsky). Darín ficou surpreso com a estatueta recebida e atribuiu à vitória, qualificada por ele como milagrosa, a presença do humor, que ficou faltando para os outros indicados. Realmente verdade.
 Assim como a excelente atuação de Ricardo Darín os outros atores também não fizeram por menos: Soledad Villamil faz o par romântico com ele e conquista também o público com seu jeito contido, e Guillermo Francella rouba muitas cenas e garante muitas risadas como o colega e melhor amigo do protagonista. A trilha sonora e a maquiagem, que fazem a perfeita sincronia com a passagem do tempo estão impecáveis.
Com o orçamento aproximado em dois milhões de euros, o filme rodado na Argentina e na Espanha, pode ser classificado como uma história que trata de política, amor, suspense, amizade, paixões e obsessões. A produção retrata acima de tudo o desafio de um homem que necessita acertar as contas com questões deixadas há 25 anos, sem que isso traga danos ao presente.



















Parabéns ao cinema argentino, que cada vez mais enriquece a sétima arte.

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