Feito o manifesto, ao que importa: passadas mais de oitenta edições do evento mais badalado de Hollywood, a impressão é de que cada vez mais a festa perde seu glamour. E isso não deve-se exclusivamente à crise mundial, desistência de muitos patrocinadores de investir no evento, ou ao corte da isenção fiscal, feito pelo novo governo que prometia mudanças radicais. O fato é que os membros da academia (cerca de seis mil integrantes) cada vez estão premiando produções que destinam-se a fazer o básico.
Todos sabem que essa festa é puro marketing, sim. A grande maioria das pessoas que trabalham em produções indicadas e merecem a estatueta, saem de mãos abanando do Kodak Theatre, em Los Angeles. O maior exemplo da injustiça cometida pela academia é Alfred Hitchcock, o maior diretor de todos os tempos, nunca ter levado um Oscar, em vida. Como aconteceu com muitos filmes, os quais mereciam uma estatueta, ao menos pela ousadia, o que, obviamente, acaba não ocorrendo. Logo, quem não é premiado agora, por um belo trabalho, é compensado depois, por algo que mereça menos, tirando o lugar de outro que seja bem feito. Assim como acontece com as homenagens póstumas, quem não recebe o reconhecimento em vida, leva por descargo de consciência um além-túmulo... Sem contar o fato dos atores que nasceram com talento e a ''maldição'' de serem bonitos, que logo são desacreditados pela academia.
O grande ganhador do Oscar nessa 81ª edição é um filme bom, não se pode negar. Mas com certeza deixa a desejar, pelo fato de ter levado oito estatuetas. A produção ''Quem quer ser um milionário?'', dirigida por Danny Boyle (''Cova Rasa''(1995)'' e ''Trainspotting''(1996)) pode ser resumida como um ''Cidade de Deus'' indiano, com um roteiro romântico, e a clichezisse do final feliz, sem contar o encerramento do filme, que parece o final de uma produção de ''sessão da tarde''.
Justiça seja feita: Sean Pean levou a estatueta por sua performance impecável em Milk. Simplesmente não havia comparação com outras atuações, nem com o galã Brad Pitt que já nasce velho no ''O curioso destino de Benjamin Button'', muito menos com o decadente Mickey Rourke, que já chegou na festa com a certeza que faturaria o tão sonhado cavaleiro dourado, sobre o rolo de filme, segurando uma espada.
A direção, que ficou com Danny Boyle (''quem quer ser...'') poderia muito bem ser dada a GusVan Sant (''Milk''), que inova com seus planos muito bem feitos nas cenas que merecem maiores destaques e poderiam passar batidas. O fato é que o filme choca, o que não é bem visto pela Academia, que continua optando pelo básico.
Para quem gosta das favelas da India, não há problemas, mas a melhor fotografia, poderia ter ficado com ''O leitor'', baseado em uma pequena parte do longa, mas muito bonita.
Mesmo sem ter visto alguns filmes meus favoritos são incontestavelmente,nessa ordem: O leitor, Milk e Benjamin Button. Filmes com algo a mais, apesar de serem adaptações.
Foi na conhecida crise de 1929 que o Oscar foi criado, e é na crise atual enfrentada pelo mundo todo que ele também acompanha a decadência. Culpa dos patrocinadores, da crise, do governo, da academia. O Oscar está passando batido e cada vez parece ocupar menos lugar na prateleira de importância da arte cinematográfica, ele anda muito quieto. Afinal de contas, até as mariores celebridades de Hollywood estão optando pela discrição.
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