quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

And the Oscar goes to...

Quem pretendia acompanhar a premiação do Oscar, no último dia 22, e não possuía o canal TNT, tv por assinatura, não pode torcer por seus filmes prediletos. Como vivemos no país da folia (em todos os sentidos), não era de esperar que alguma emissora aberta perderia audiência para promover algum tipo de cultura, que não tivesse bundas nem peitos, em plena época das bundas e dos peitos. Isso sem contar o atraso da chegada dos filmes, para que os brasileiros apreciadores da sétima arte pudessem acompanhar a premiação. Muitos estreiaram um dia antes da festa e outros só vão estar nas salas de cinema em março.

Feito o manifesto, ao que importa: passadas mais de oitenta edições do evento mais badalado de Hollywood, a impressão é de que cada vez mais a festa perde seu glamour. E isso não deve-se exclusivamente à crise mundial, desistência de muitos patrocinadores de investir no evento, ou ao corte da isenção fiscal, feito pelo novo governo que prometia mudanças radicais. O fato é que os membros da academia (cerca de seis mil integrantes) cada vez estão premiando produções que destinam-se a fazer o básico.

Todos sabem que essa festa é puro marketing, sim. A grande maioria das pessoas que trabalham em produções indicadas e merecem a estatueta, saem de mãos abanando do Kodak Theatre, em Los Angeles. O maior exemplo da injustiça cometida pela academia é Alfred Hitchcock, o maior diretor de todos os tempos, nunca ter levado um Oscar, em vida. Como aconteceu com muitos filmes, os quais mereciam uma estatueta, ao menos pela ousadia, o que, obviamente, acaba não ocorrendo. Logo, quem não é premiado agora, por um belo trabalho, é compensado depois, por algo que mereça menos, tirando o lugar de outro que seja bem feito. Assim como acontece com as homenagens póstumas, quem não recebe o reconhecimento em vida, leva por descargo de consciência um além-túmulo... Sem contar o fato dos atores que nasceram com talento e a ''maldição'' de serem bonitos, que logo são desacreditados pela academia.
O grande ganhador do Oscar nessa 81ª edição é um filme bom, não se pode negar. Mas com certeza deixa a desejar, pelo fato de ter levado oito estatuetas. A produção ''Quem quer ser um milionário?'', dirigida por Danny Boyle (''Cova Rasa''(1995)'' e ''Trainspotting''(1996)) pode ser resumida como um ''Cidade de Deus'' indiano, com um roteiro romântico, e a clichezisse do final feliz, sem contar o encerramento do filme, que parece o final de uma produção de ''sessão da tarde''.

Justiça seja feita: Sean Pean levou a estatueta por sua performance impecável em Milk. Simplesmente não havia comparação com outras atuações, nem com o galã Brad Pitt que já nasce velho no ''O curioso destino de Benjamin Button'', muito menos com o decadente Mickey Rourke, que já chegou na festa com a certeza que faturaria o tão sonhado cavaleiro dourado, sobre o rolo de filme, segurando uma espada.

A direção, que ficou com Danny Boyle (''quem quer ser...'') poderia muito bem ser dada a GusVan Sant (''Milk''), que inova com seus planos muito bem feitos nas cenas que merecem maiores destaques e poderiam passar batidas. O fato é que o filme choca, o que não é bem visto pela Academia, que continua optando pelo básico.

Para quem gosta das favelas da India, não há problemas, mas a melhor fotografia, poderia ter ficado com ''O leitor'', baseado em uma pequena parte do longa, mas muito bonita.

Mesmo sem ter visto alguns filmes meus favoritos são incontestavelmente,nessa ordem: O leitor, Milk e Benjamin Button. Filmes com algo a mais, apesar de serem adaptações.

Foi na conhecida crise de 1929 que o Oscar foi criado, e é na crise atual enfrentada pelo mundo todo que ele também acompanha a decadência. Culpa dos patrocinadores, da crise, do governo, da academia. O Oscar está passando batido e cada vez parece ocupar menos lugar na prateleira de importância da arte cinematográfica, ele anda muito quieto. Afinal de contas, até as mariores celebridades de Hollywood estão optando pela discrição.

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