"Não pode ser verdade" foi o primeiro pensamento ao ver David Lynch, poucos metros de distância. O diretor de 62 anos, conhecido por seus filmes "malucos", chegou com muita naturalidade, como se fosse um velho conhecido da platéia, na noite de domingo (10), para participar do Fronteiras do Pensamento.
O cineasta cult veio a Porto Alegre para o lançamento de seu livro "Em águas profundas: criatividade e meditação", e foi o que mais falou em menos de uma hora. Sobre esse assunto Lynch destacou o poder da meditação para aumentar o potencial físico, mental e espiritual e encontrar a verdadeira paz, atuando em muitos traumas que dificultam a evolução positiva da vida. Em sua luta a favor da paz mundial, destacou que não basta apenas acabar com a guerra, definiu a verdadeira paz como o final das energias negativas.
Também foi mencionado o trabalho de sua fundação, que contribui no desempenho de alunos dos colégios que a David Lynch Foundation implantou a técnica de meditação transcedental.Essa prática é considerada como a única atividade capaz de ativar todo o cérebro quando praticada.
Sobre seus filmes e a forma como o diretor escreve seus roteiros, ele apenas exclamou:''i love ideas!!!'', e que tudo começa com uma pequena idéia, que é anotada, e junto com outras vira o roteiro. Mulholland Drive (Cidade dos Sonhos) e Island Empire (Império dos sonhos) são idéias que explodiram, foram pensadas, transformadas em roteiro e após em filme. Além da criatividade, destacou a intuição (definição de emoção unida com o intelecto)como o primeiro dom que o artista tem, conseguindo detectar os problemas e dessa forma encontrando as soluções.
Ao afirmar que a humanidade não foi feita para sofrer surgiram questões seus personagens sombrios, que passam por muitos sofrimentos. Para Lynch o sofrimento é uma espécie de auto conhecimento e evolução, mas somente quando encarado dessa forma. E ainda destacou que uma pessoa pode ser muito feliz e contar histórias tristes, essa é a mágica do cinema."Você não precisa morrer para contar uma história de morte",brincou.
O polêmico diretor de "Blue Velvet" (Veludo Azul) é o que seus filmes representam: uma mistura de sentimentos e sensações subjetivas. Desde sempre envolvido com a arte(pintura, escultura, composição) ele define o cinema como a arte abstrata mais bonita que existe. Por isso abomina a utilização da sétima arte como um meio exclusivo para ganhar dinheiro, mais uma vez destacando a importância de qualquer idéia, desde que, naturalmente verdadeira. Tentar "comercializar" uma produção ''putrifica toda a alma do cinema'', lamentou.
Falando em filmes e lucros, obviamente foi mencionada sua relação de amor e ódio com Hollywood, muitas vezes explícitas em seus filmes, como Mulholland Drive (Cidade dos sonhos). O cineasta comentou que gosta do lugar, inclusive, mora em Los Angeles, onde tem uma ótima luz, muitos estúdios, e alegra-se em saber que há milhares de pessoas trabalhando com idéias, para fazer a mágica do filme. Mas chateia-se ao ver que alguns estúdios simplesmente não dão valor para as idéias, e apenas querem ganhar dinheiro."Duna", o filme que deveria ser de sua direção, demorou dois anos para ser feito e ao menos nem recebeu seu corte final (parte relacionada a montagem final do filme, feita pelo diretor), foi o exemplo dado. Ele definiu como"uma experiência terrível", e descreveu que a pior coisa foi executar suas idéias sabendo que a maioria seria excluída no final.
Um fato que achei muito interessante foi a forma como Lynch escolhe seu elenco: não há nenhuma realização de testes com os atores. Ele apenas analisa fotos e depois chama as pessoas para várias conversas, para ver se há, e com qual personagem há uma identificação. Os testes são vistos pelo diretor como formas humilhantes de expor os atores, uma "prova" desnecessária que não consegue definir muitas coisas.
Sobre o momento atual, o cineasta declarou que não está trabalhando em nenhum filme ultimamente, apenas em outras áreas. Também definiu a transformação da internet como o novo conceito de televisão, onde tudo pode ser visto e conhecido através desse meio.
No final da palestra Donovan Leitch, músico inglês que viajou para a índia com o grupo The Beatles, tocou algumas de suas músicas para meditação e David Lynch fez uma energização com toda a platéia. Ouvir David Lynch e sentir sua energia foi uma experiência surreal, quase como a de um sonho.
Site de David Lynch:
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